sábado, 14 de abril de 2012

“Tudo tem a ver com meio ambiente”


Mesa redonda sobre Jornalismo Ambiental agrega discussões sobre a complexidade do tema, da abordagem e da limitação jornalística.

Ilza Girardi, Edgard Patrício e Souto Filho debatem sobre
Jornalismo Ambiental. Foto de Catherine Santos
A III Semana de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará encerrou-se nessa sexta-feira (13) com o debate acerca da cobertura de pautas ambientais. A mesa foi composta pelo jornalista Souto Filho, repórter do caderno O Estado Verde (O Estado do Ceará) e pelos professores Ilza Girardi (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS) e Edgard Patrício (UFC), na figura de mediador.

Ilza Girardi é uma das fundadoras do Núcleo de Ecojornalistas (NEJ) do Rio Grande do Sul. Criado em 1990 e em atividade até hoje, o NEJ busca qualificar a informação ambiental divulgada pelos meios de comunicação, já que ela é diretamente relacionada ao desenvolvimento da consciência crítica da população. “O mundo e o jornalismo pedem mudanças”, afirma a professora.

O jornalismo ambiental analisa os efeitos da atividade humana no planeta e na sociedade, não podendo ser desassociado de aspectos políticos, culturais e econômicos.  “Tudo tem a ver com meio ambiente”, resume Ilza Girardi. A professora relata que essa abordagem ainda enfrenta muitas barreiras na grande mídia, principalmente por conta do modelo econômico vigente. Conta ainda que muitas vezes o espaço alcançado para as pautas sobre a natureza é de iniciativa e esforço pessoal do repórter, não uma política editorial do jornal. “O jornalismo ambiental ainda enfrenta preconceitos. Nós [jornalistas engajados na discussão sobre meio ambiente] ainda somos chamados de ecochatos.”

A professora argumenta que a visão cartesiana e separatista atual, em que homem e natureza são explorados, deve ser substituída por uma visão sistêmica, ampla e consciente da complexidade do assunto. A dificuldade para abordá-lo é grande, porque há conceitos e discussões embutidos nas pautas que não fazem parte da formação acadêmica dos jornalistas, como ressalta Souto Filho. “Existem muitas coisas implícitas nesses assuntos [sobre meio ambiente] e o jornalista às vezes não tem a sensibilidade de ir atrás e procurar aprofundar”.  Ele alega estar reaprendendo a fazer jornalismo e defende a especialização do profissional no tema, através de estudo, pesquisa e apuração. “O jornalista é a ferramenta para que a população abrace causas”, aponta o repórter. “O nosso papel é tentar informar da maneira mais simples possível, para que a sociedade tome consciência e para que possamos mudar o cenário de hoje em dia, que não é positivo”.

Ilza diz que as universidades devem incorporar o debate ambiental em seus currículos e Souto concorda, pois alega ter aprendido a lidar com a temática somente durante o exercício da profissão. A falta de preparação específica no espaço da faculdade pode refletir na qualidade da produção jornalística. “O jornalismo ambiental no Ceará é muito precário”, analisa o repórter do caderno O Estado Verde. Edgard Patrício pontua que a discussão do tópico ainda dentro dos cursos “cria oportunidades de desenvolver características que às vezes são um pouco esquecidas, como o jornalismo investigativo, contextualizado e humanizado”.  Os três componentes da mesa redonda são a favor do aprofundamento da cobertura, para que as pautas ambientais possam ser mais inseridas na grande mídia e não se reduzam a acompanhamento de catástrofes naturais.


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