Mesa redonda sobre Jornalismo Ambiental agrega discussões sobre a complexidade do tema, da abordagem e da limitação jornalística.
Ilza Girardi, Edgard Patrício e Souto Filho debatem sobre Jornalismo Ambiental. Foto de Catherine Santos |
Ilza Girardi é uma das fundadoras do Núcleo de Ecojornalistas (NEJ) do Rio Grande do Sul. Criado em 1990 e em atividade até hoje, o NEJ busca qualificar a informação ambiental divulgada pelos meios de comunicação, já que ela é diretamente relacionada ao desenvolvimento da consciência crítica da população. “O mundo e o jornalismo pedem mudanças”, afirma a professora.
O jornalismo ambiental analisa os efeitos da atividade humana no planeta e na sociedade, não podendo ser desassociado de aspectos políticos, culturais e econômicos. “Tudo tem a ver com meio ambiente”, resume Ilza Girardi. A professora relata que essa abordagem ainda enfrenta muitas barreiras na grande mídia, principalmente por conta do modelo econômico vigente. Conta ainda que muitas vezes o espaço alcançado para as pautas sobre a natureza é de iniciativa e esforço pessoal do repórter, não uma política editorial do jornal. “O jornalismo ambiental ainda enfrenta preconceitos. Nós [jornalistas engajados na discussão sobre meio ambiente] ainda somos chamados de ecochatos.”
A professora argumenta que a visão cartesiana e separatista atual, em que homem e natureza são explorados, deve ser substituída por uma visão sistêmica, ampla e consciente da complexidade do assunto. A dificuldade para abordá-lo é grande, porque há conceitos e discussões embutidos nas pautas que não fazem parte da formação acadêmica dos jornalistas, como ressalta Souto Filho. “Existem muitas coisas implícitas nesses assuntos [sobre meio ambiente] e o jornalista às vezes não tem a sensibilidade de ir atrás e procurar aprofundar”. Ele alega estar reaprendendo a fazer jornalismo e defende a especialização do profissional no tema, através de estudo, pesquisa e apuração. “O jornalista é a ferramenta para que a população abrace causas”, aponta o repórter. “O nosso papel é tentar informar da maneira mais simples possível, para que a sociedade tome consciência e para que possamos mudar o cenário de hoje em dia, que não é positivo”.
Ilza diz que as universidades devem incorporar o debate ambiental em seus currículos e Souto concorda, pois alega ter aprendido a lidar com a temática somente durante o exercício da profissão. A falta de preparação específica no espaço da faculdade pode refletir na qualidade da produção jornalística. “O jornalismo ambiental no Ceará é muito precário”, analisa o repórter do caderno O Estado Verde. Edgard Patrício pontua que a discussão do tópico ainda dentro dos cursos “cria oportunidades de desenvolver características que às vezes são um pouco esquecidas, como o jornalismo investigativo, contextualizado e humanizado”. Os três componentes da mesa redonda são a favor do aprofundamento da cobertura, para que as pautas ambientais possam ser mais inseridas na grande mídia e não se reduzam a acompanhamento de catástrofes naturais.
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